quinta-feira, 3 de maio de 2012

Aldeia global

Que bonita a aldeia global!
Que eficácia e que vertigem!
Que partilha na aldeia global!
Na aldeia global as pessoas vivem depressa.
Todos têm muita pressa
na aldeia global, só há primeiros lugares!


Na aldeia global morre-se depressa.
Ama-se depressa.
Mata-se depressa.
Mutila-se.
Explora-se
Viola-se.
Tudo depressa.


Na aldeia global, tudo acontece depressa.
Por isso comemos antisseticamente,
enquanto as torres gémeas se desmoronam,
enquanto vemos as próteses generosamente
oferecidas aos meninos de Angola.
Porque as suas pernas e braços
se estilhaçaram. Depressa.
Depressa, multidões apodrecem em valas comuns.
Tão comumente!...

Que pena as multidões só assim conquistarem a equidade!
Morrem e apodrecem nos mapas,
nos gráficos, nos ecrãs.
Não nos dizem respeito.
São apenas pessoas que passam.Depressa.
Quem as mandou exibirem-se, assim, tão descompostas?!
Degoladas. Ensanguentadas. Cobertas de moscas, de pó,
no ecrã que é nosso?!

As guerras e catástrofes naturais deverão ter
maquilhadores de serviço
para não ferirem a nossa suscetibilidade,
para não irromperem, assim, pelas nossas casas,
enquanto, antisseticamente,
concluímos uma sobremesa light
num condomínio fechado da aldeia global!

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